26 de setembro de 2008

Do amor, a raiva.

Antigo, mas um poema importante para mim. Marcou a fase na qual eu comecei a escrever com um objetivo. O objetivo mudou, mas eu continuo escrevendo.


Do amor, a raiva

De todo o amor que tenho
Sinto raiva
Raiva não de tê-lo
Mas de ser aquele, a mim
Mais justo.
A solidão é conseqüência
Conseqüência de qualquer amor
que seja verdadeiro
Pois os amores correspondidos
São medíocres
E os amantes
São doentios.
Minha raiva faz pulsar
Se sinto a vida
É porque ela está na solidão
E todas as felicidades
Não me competem.
Os amantes não sentem
O sangue não corre
Não percebem a morte
que se aproxima.
A morte é conseqüência
Daquilo que faz pulsar
E se morro
Um pouco mais a cada dia
É porque ainda existe
Alguma vida.
Escolhi a taquicardia
Definhar lentamente
E é nos braços do vazio
que me embalo
E só não sou melhor por isso
Porque ainda busco
Em outros braços
Algum consolo
Se não seria plena
Plena incompletude
E enfim humana
Por isso.

3 comentários:

Tatiana disse...

Engraçado ler isso logo depois que escutei o Camelo cantar que "toda dor repousa na vontade, todo amor sempre encontra a solidão".

Pensando bem, engraçado não é a palavra mais adequada.

Paula Mariá disse...

Adoray Gabi *.*
Eu parto do princípio de que sou só, logo existo. Existo, logo sou só.

Mr. N disse...

Muito bom, uma poesia bem filosófica... me pôs para refletir sobre a vida, finitude e como somos sozinhos.