4 de julho de 2010

Poesia sou

Uma postagem por semana? Acho que é a primeira vez que acontece. Vou verificar.

Há dúvidas quanto ao título deste poema... na verdade não fui eu quem sugeriu este título, mas faz sentido. Bem, quem sugeriu o título sugeriu também que eu publicasse esse poema que, na verdade, não é bem meu. Ele está mais para uma apropriação das palavras de certos mortos que eu reuni, a saber, Cesário Verde, Camilo Pessanha e Antero de Quental. Mas o que somos nós a não ser a reunião das vozes que nos antecedem?

Ready made também é arte.



Poesia sou


A dor humana busca amplos horizontes
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana...
E tem marés de fel como um sinistro mar...
Mas na imensa extensão onde se esconde
A dor forte e imprevista
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados.

Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso
Eu sigo, como as linhas de uma pauta,
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
Exaustos e curvados,
Escravos condenados,
Em negro recortados.

Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!
Como se eu fosse alguém! Como se a vida
Pudesse ser alguém! - logo em seguida
Junto do mar sentei-me tristemente.
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Resplandecente e imenso
Um bramido, um queixume, e nada mais.