21 de dezembro de 2010

Um Mapa do Mundo

Cada um desenha seu mapa do mundo da maneira que pode. Aproxima lugares distantes pela memória e pela vontade. Depois de ter conhecido alguns lugares onde sempre sonhei estar, fiz a média aritmética da minha expectativa e daquilo que meus sentidos puderam capturar. Isto capturado pelos sentidos é o que Kant chamou de Real, é o que Fernando Pessoa chamou de Sensação, é o que eu chamo de parcela. O mundo tem vários mapas que, conjugados, resultam numa sucessão de mundos possíveis. O meu mapa do mundo marca lugares, pessoas e sentimentos. Meu mapa só pode ser o mapa do meu mundo.

Trilha sonora: A Map of the World - Pat Metheny



Um Mapa do Mundo

O meu mundo tem seu próprio desenho
e eu mesma tracei o mapa,
com pessoas circulando enquanto o tempo avança,
visto de uma janela como um filme que passa.

O meu mundo tem cheiro de flor e fumaça,
pelo traço de uma criança,
tem monte, tem mato, tem mar e saudade,
amores ardentes no calor da cidade,
parentes voltando no céu da lembrança.

O meu mundo tem todo um colorido
de tintas sinceras que não se apagam,
que dão forma e vida a meus sonhos, sentidos,
que, por entre as estrelas, no meu mundo, espaçam.

4 de julho de 2010

Poesia sou

Uma postagem por semana? Acho que é a primeira vez que acontece. Vou verificar.

Há dúvidas quanto ao título deste poema... na verdade não fui eu quem sugeriu este título, mas faz sentido. Bem, quem sugeriu o título sugeriu também que eu publicasse esse poema que, na verdade, não é bem meu. Ele está mais para uma apropriação das palavras de certos mortos que eu reuni, a saber, Cesário Verde, Camilo Pessanha e Antero de Quental. Mas o que somos nós a não ser a reunião das vozes que nos antecedem?

Ready made também é arte.



Poesia sou


A dor humana busca amplos horizontes
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana...
E tem marés de fel como um sinistro mar...
Mas na imensa extensão onde se esconde
A dor forte e imprevista
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados.

Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso
Eu sigo, como as linhas de uma pauta,
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
Exaustos e curvados,
Escravos condenados,
Em negro recortados.

Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!
Como se eu fosse alguém! Como se a vida
Pudesse ser alguém! - logo em seguida
Junto do mar sentei-me tristemente.
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Resplandecente e imenso
Um bramido, um queixume, e nada mais.

23 de junho de 2010

Paisagem Húngara

Poema escrito no chacoalhar do trem de Zagreb para Budapeste. Se eu lembrasse que tinha esse poema aqui no computador, não teria ficado tanto tempo sem postar.
Penso em mudar alguns versos, mas vou publicar mesmo assim...

Textos visuais fazem bem pra alma.



Paisagem Húngara

O céu riscado pelas nuvens traçantes,
tangentes ao cinza acumulado,
são ângulos desenhados pelos raios
do sol que se esconde em vergonhas.
As casas dispersas, largas, perdidas,
floreiam no entorno da estação
e o Lago estagnado se esverdeia de coníferas.
Atravesso um rio que desconheço.
Vejo casas de singular arquitetura.
Vejo o azul que em todo o mundo é o mesmo.
Vejo o mesmo que minha mente procura.
O cenário tão distinto de um lugar que nunca vi
causa-me imensas saudades.
Sinto falta das tropicalidades
apesar do calor daqui.

9 de fevereiro de 2010

Limites

Poema mais que recente. Feito hoje, depois de um hiato poético.
Minha mente às vezes aparece com cada coisa que nem eu entendo...



Nos espaços inacabados entre eu e mim
Desenho os esboços roçados nos cantos
Os muitos abismos do sujeito objeto
Entornam o estilo dos ancestrais escritos consagrados por sua [precisão e perfeição de artíficio.
A memória rastreia a beleza em uma leitura scanning e retorna de [viagem com a lembrança daqueles quadros estacionados no [Museu do Prado.
Vem as cores, vem as cores, mas as palavras andam por aí [perdidas como as constelações que são apenas pontos e não [signos do zodíaco.
Os cálculos aproximados do limite da alma estão errados.
Não sei fazer cálculos, nunca soube.